Agencia da Câmara
Leonardo Prado
Seminário promovido por comissão especial discutiu o problema do crack no Distrito Federal
“Essa disciplina poderia se chamar Conhecimento da Vida e iria cumprir o papel de conscientizar crianças e adolescentes sobre as consequências do envolvimento com as drogas”, disse Ferreira, que atua como educador no Projeto Giração e atualmente estuda Direito. Ele relatou sua experiência de 20 anos como usuário de drogas, incluindo o crack.
O educador, que participou de seminário promovido pela Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas para discutir o problema do crack no Distrito Federal, defendeu a internação compulsória de crianças viciadas e criticou a falta de oportunidades daqueles que se veem envolvidos pela dependência química. “Os que deveriam me educar diziam que eu ia para na Papuda [Penitenciária] e nunca me mostravam outro caminho.”
Cinco temas
Responsável por consolidar as sugestões apresentadas nos debates regionais, o relator da comissão especial, deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL), afirmou que o texto final, a ser apresentado até novembro, deverá conter normas em torno de cinco temas principais: prevenção, recuperação, reinserção, repressão e legislação.
Segundo o deputado, as drogas começam a fazer parte da vida das pessoas cada vez mais cedo, o que exige uma mudança tanto no método de abordagem quanto no tratamento. “Antes era aos 18; com o álcool, hoje se começa muito mais cedo, com 12 anos em média”, afirmou Carimbão, para quem a solução do problema passa por ações integradas de áreas como saúde, educação, trabalho, segurança pública.
“Dentro da ótica da reinserção, por exemplo, precisamos garantir uma chance de emprego para ex-dependentes que venceram a batalha contra o vício.” O relator destacou ainda a necessidade de investir em meios de evitar a entrada da droga no País.
O presidente da comissão, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), concordou com a ideia de que é preciso uma abordagem mais adequada do que a que diz simplesmente que a droga mata. “Não se pode esconder que droga traz um prazer momentâneo, mas precisamos deixar claro o que ela provoca na vida do usuário”, completou. Lopes ainda defendeu formas de intervenção tributária que permitam utilizar parte da arrecadação de drogas lícitas (álcool e tabaco) para financiar investimentos de combate às ilícitas.
Políticas públicas
A deputada Erika Kokay (PT-DF), que propôs o seminário, também comentou a ausência de políticas públicas integradas de prevenção, tratamento e reinserção. Em relação ao Distrito Federal, ela lamentou a realidade observada em visitas à Ceilândia e à região central de Brasília. “Ouvimos relatos de crianças obrigadas a pular no Lago [Paranoá], inclusive com as mãos amarradas, depois de atos de violência sexual cometidos por agentes do estado, além de várias outras situações inadmissíveis.” A deputada sugeriu o estímulo à formação de uma rede de entidades terapêuticas no DF, com o apoio do estado.
O subsecretário da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, Aldir Roldão, aprova a ideia. “Já existe um processo de cadastramento das unidades terapêuticas para que elas se tornem auxiliares da estrutura do governo”, afirmou. Roldão também comentou a intenção do governo de realizar um mapeamento sobre o uso de álcool e drogas no DF.
O seminário integra uma série de encontros regionais a serem realizados em todos os estados para repensar uma política nacional contra as drogas.
Edição – Maria Clarice Dias
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