A grande problemática hoje seria como transformar a informação da internet em conhecimento, função que caberia ao professor
Não só as crianças hoje têm cada vez maior acesso a
números e textos como elas desenvolvem a habilidade de formular ideias
sobre essas informações muito antes do que se pensava. Estudos
realizados pelas pesquisadoras argentinas Susana Wolman e Claudia
Molinari indicam que essa capacidade de compreensão de dados pode se
iniciar já aos três anos. A par disso, a Fundação Victor Civita (FVC),
órgão que busca a melhoria da qualidade da educação básica no Brasil,
tem refletido sobre as formas de aprimorar o ensino neste cenário de
expansão tecnológica e amplo acesso das crianças à informação. E todas
as respostas caminham para um ponto: a formação dos professores.
A formação dos professores precisa ser
voltada à realidade das escolas, para a prática. Dessa forma, os
profissionais poderão induzir os alunos a usarem a internet e outras tecnologias de forma positiva
Angela Dannemann Diretora da Fundação Victor Civita
Diretora-executiva da FVC, Angela Dannemann considera
que, como este é um fenômeno ainda recente, só será possível uma
avaliação completa dos prós e contras quase irrestrito e constante à
informação em alguns anos. A grande problemática hoje seria como
transformar essa informação em conhecimento, função que caberia ao
professor. Mas, de acordo com Angela, a formação dos educadores ainda
não condiz com os novos paradigmas da sala de aula, impedindo que ele
assuma esse posto.
"A formação dos professores precisa ser voltada à
realidade das escolas, para a prática. Dessa forma, os profissionais
poderão induzir os alunos a usarem a internet e outras tecnologias de
forma positiva", diz.
Uma pesquisa
da fundação, realizada ainda no ano de 2009, que analisou o uso de
computadores e da internet em escolas públicas de 13 capitais
brasileiras, confirma que, já naquele ano, existia infraestrutura na
maioria das escolas que possibilitaria fazer uso pedagógico dos
computadores com alunos. "No entanto, a preparação de professores e
gestores ainda é um problema", conclui o estudo.
Choque de gerações dificulta
Informação sempre houve. O que mudou é
a forma como esses dados chegam às crianças, de forma mais rápida e
menos filtrada, por meio, principalmente, da internet. Enquanto a nova
geração já nasceu com smartphone
no bolso e perfil no Facebook, a geração anterior ainda busca adaptação
a essas novidades, aprendendo suas multifunções. O fato dos alunos
iniciarem a vida escolar já estimulados pelo vasto acesso à informação
transforma a cultura de ensino do "um para todos" para uma lógica
colaborativa, na qual o professor trabalha como um mediador da
informação, organizando e qualificando os conteúdos em questão. "A
tecnologia é mais colaborativa, e com isso se tem um ganho muito
grande", analisa o psicólogo Adriano Gosuen, especializado em Educação e
Direitos da Criança e do Adolescente.
"Os alunos podem ensinar o professor a
criar um blog para a turma, mas é o professor quem deve mediar o
conteúdo ali disposto", salienta Gosuen. Para ele, com a apropriação por
parte dos alunos de novas tecnologias, é preciso que a escola mude a
forma como ela se vê em relação à criança. "A escola tem de ensinar aos
alunos como lidar com as informações recebidas; ensiná-los a ter uma
leitura crítica", diz.
Maria Helena Silveira, 43 anos, mãe de
Marcelle, 15 anos, e Maria Clara, 6 anos, considera positiva a
adaptação das escola às novas tecnologias, afinal, as crianças já chegam
à idade escolar com habilidades nessa área. Cabe à escola oferecer
meios para que a criança faça um bom uso delas. "Se a escola
disponibiliza material via internet, facilita a vida dos alunos: grupos
podem trabalhar online, evitando saídas e encontros na rua", diz Maria Helena, salientando a questão da segurança.
A mãe conta que Maria Clara, que
frequenta o 1º ano do ensino fundamental, já possui um tablet e
apresenta grande facilidade no manuseio de aparelhos tecnológicos.
"Quando eu encontro dificuldades no celular, ela que me ensina a mexer",
diz.
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